Vejo com meus olhos sôfregos, insaturáveis
O movimento das ruas, dos guetos, dos bares
A troca de carinho, dos casais, dos amáveis
Observo, atônito, a beleza que cerca a noite
O encanto que abraça tantos domicílios, tantos lares
E que me abarca como calabrote, açoite
Vejo com meu coração combalido, alquebrado
As taças brindando o encontro do status com o poder
O sorriso em cada rosto, cada face, estampado
Noto, pasmado, a lua que não me prateia
E que clarifica o sonho e a vida, daqueles, sem merecer
E minh’alma fria, frígida, esbraseia
Vejo com o toque de minhas mãos calejadas
O macio da seda, do tecido, da contextura
Em vestidos e casacos cálidos, em madames refinadas
Analiso, consternado, sem ter o que sorver
E engulo seco, vendo os homens jogados à fartura
Banhados de vinhos, manjares dos Deuses, seu bel-prazer
Vejo com meu imo, uma profunda tristeza e aflição
A desigualdade social esparramada nas vielas frias
Imagens que me chocam, mesmo eu, que já não tenho coração
Advirto, atarantado, que a noite existe para todos, cabais
Para nós, pobres reles da vida, indigentes crias
Para eles, produtos do submundo, eternos canibais
Sérgio Murilo
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário