"Vicky Cristina Barcelona”
São duas amigas norte-americanas de férias na Espanha. Mais especificamente em Barcelona. Na casa de uma jovem senhora charmosa de meia idade. Elas passeiam pela cidade – que é linda – de Gaudi e de outros inúmeros catalões que admiro. E numa noites dessas encontram com um local, um sedutor pintor.
Estados civis: a loirinha sonsinha é solteira, a morena certinha é noiva, a coroa é casada e o mancebo é separado. Perspectivas: a cantada é direta, honesta, criativa, quase irrecusável, viajar para Oviedo em uma hora pilotando ele mesmo o avião e desfrutá-las durante o fim-de-semana. A senhora fica com o marido com a pureza de alma que lhe é peculiar e que todo corno tem. As duas vão. Mas até a coroa embarcaria nessa... se convidada fosse.
Oviedo é um encanto. A cantada é sutil. O pintor agrada a ambas, a alta é contida e faz mil análises, a mais baixa se atira. Sua entrada -no quarto dele- como quem não quer entrar, mas está louca para se atirar na cama é emblemática. Toque do diretor, não era a hora. Sensacional.
Ele então sai com a estudante dos costumes catalões e esta fala com o noivo pelo telefone. Ela é amada com firmeza, transparência e exclusividade. Como um cão faria com seu dono. Mulheres em geral preferem os cães. Eles latem e não mordem. Mas o espetacular Javier Bardem morde, mordisca, beija, machuca, e marca. Basta uma noite. Imagine quem já experimentou mil?
Tudo volta à aparente normalidade. Mas ele liga para a outra. Sai com ela. A primeira arde em ciúmes, mas o sincero, autêntico - e manezinho noivo - que precisa de uma única mulher está chegando, para casar-se com ela. Como voltar atrás? A maioria das mulheres já ousou pensar na traição, no movimento único da paixão. Poucas experimentaram-na verdadeiramente.
O casal é formado. Vivem bem, a Europa faz milagres. Então surge o tufão. Penélope Cruz é de uma sensualidade tão marcante, que ocupa a tela toda. Suas palavras em espanhol parecem gritos de Lorca, e seus gritos, poemas de Neruda. Ela é louca? Não, apenas animal. Instintiva, genial, inteligentíssima e possuidora de um par de coxas que dali de cima a coitada que observa, sente o poder inequívoco da fêmea rival.
Mil vertentes poderiam sair desse ponto. Ao que parece ela – a loirinha - é o ponto-de-equilíbrio da conturbada relação entre Javier e Penélope. E a coitada desiste. No começo pensei que ela teve ciúmes, mas não. Ela simplesmente não consegue sentir-se feliz, é uma insatisfeita crônica.
A morena tenta reencontrar com ele, mas o momento é péssimo. Leva até tiro. E a ambigüidade dos valores da sociedade hipócrita em que vivemos é posta em xeque. A jovem senhora trai o marido com o sócio dele. E ela é que é a maior incentivadora da morena ir em busca de sua paixão.
Tempo. Só o tempo dilui os fatos, as palavras e deixa a essência. Todos em busca de um amor, de um peito amigo e de um coração disparado. E ninguém tem tempo. Talvez o casal a se formar nem seja os demonstrados no filme, já que são todos estereotipados. Extremos que servem de análise para nossas próprias vidas.
Os mais reais são os maridos chifrados (já reparou como esses homens gostam de eletrônicos, fazem a barba todos os dias e têm o cabelo cortado certinho?) e a profunda e delicada personagem, a fina senhora. Que mesmo dentro das prisões que a cercam, se liberta.
que há de bom: atuação espetacular de Javier e Penélope, Barcelona linda
O que há de ruim: talvez os diálogos tão marcantes do diretor tenham sido mal ditos pela fraca loirinha, que por sua vez é a atual “musa”
O que prestar atenção: Javier tem um pouco de Picasso, a Penélope de Miró, e a loirinha de Matisse... mas o que vale mesmo é a morena Dali e a senhora daqui
A cena do filme: a massagem no pescoço de Javier, a sorte desse homem é tão grande como a sua ingenuidade em pensar que pode amar mais de uma mulher ao mesmo tempo e alguma delas saber dividir...
Cotação: filme ótimo(@@@@)
COBRA
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