sábado, 15 de novembro de 2008

DEVANEIOS DO SÁBIO COXO

(spóvoa-recados-arquivo)

Tem um sábio coxo percorrendo as ruas
Com os olhos tortos, olhando o mundo
Pelas frinchas das portas nuas
Olhando o capeta num buraco imundo.

Sábio poeta cuspindo no céu
Molhando as nuvens de saliva
Para chover um mundaréu
Sobre toda criatura viva.

Sábio velho, bruxo, talvez poeta
A perna torta para enganar as donzelas
Não sabendo que ele é um esteta
Não lhe dão paz, pelas suas janelas.

Desprezando, tem na face um sorriso triste
Apaixonado, nega a sua sina
Verbera contra o mundo de dedo em riste
Contra a solidão enorme que não termina.

Entretanto olha com o olho torto,
mulheres nuas atrás da porta.

Nenhum comentário: